segunda-feira, 26 de julho de 2010

A bailarina e a determinação




Eu adoro histórias de pessoas determinadas, persistentes, que quando querem alguma coisa correm atrás e lutam até a última gota de suor. Muito cedo, eu aprendi que determinação é ingrediente básico para quem quer ter sucesso.


Aos 3 anos, meu pai me inscreveu numa escola de ballet perto de casa, no Butantã. O ballet foi indicação da minha pediatra. Como meus pezinhos eram tortinhos, ela recomendou a botinha ortopédica ou ballet, o que, segundo ela, era melhor, mas demoraria mais tempo.

Papai não teve dúvida, bateu à porta da escola e ofereceu à dona propagandas do local _ ele vendia placas e faixas àquela época_ em troca da mensalidade. A mulher topou. E eu estudei na Miriam Ballet, no coração da Vila Gomes, dos 3 aos 18 anos de idade. Eu simplesmente amava a dança clássica. Levava muito a sério. Não comia muito para não engordar -nessa época, pesava 45 quilos _, não tomava sol para não ficar com marca de biquíni (coisa proibida para uma bailarina) e era extremamente rigorosa nos treinamentos. Cheguei a treinar cinco vezes por semana, mais de três horas de aula por dia. E nos treinos, eu colocava um saco de arroz, aqueles grossos, dentro do colã para suar muito a ponto de evitar ter barriga.

O problema é que eu nunca fui uma boa bailarina porque não desenvolvi o chamado "colo de pé", necessário para dançar com as sapatilhas de ponta (aquelas com gesso que fazem a bailarina flutuar). Minha professora alemã, Claudia, que dava aulas no Municipal, disse que nunca tinha visto um caso igual ao meu. "É raro! Você não tem força nos pés para subir na ponta", ela repetia. Mas isso não a fez desistir de mim. E nem eu de dançar.

Após os treinos, ela me deitava no chão e encaixa meus pés no vão de um armário branco, pra meus pés criarem forçadamente a tal dobradura. Eu ficava lá, obediente, horas, enquanto as outras dançavam. A rigorosa alemã e sua discípula incansável. Foram anos assim. Cheguei a dar aulas de ballet, mas, claro, uma hora parei tudo e fui fazer faculdade.

Ainda tenho guardada até hoje a lembrança de uma apresentação de dança no teatro João Caetano. Ao final, nós, seis bailarinas, chorávamos de alegria abraçadas à ela por tudo ter dado tão certo. Eu chorava de soluçar por tudo ter sido perfeito, apesar do meu medo de não conseguir subir na ponta, de meus pés não respeitarem meu cérebro, meu desejo de dançar foi maior. E aquele dia foi o ponto alto da dança pra mim. Eu descobri que eu podia!

A disciplina e determinação do ballet ajudaram a formar minha personalidade. A Claudia me ensinou que mesmo sem o dom, mesmo sem capacidade, sem técnica, mesmo com medo de não conseguir, quem quer muito alguma coisa pode muito bem consegui-la. Basta ser determinado e ir atrás. Quando ela nos deixou para uma turnê internacional, Claudia me deu uns papéis xerocados sobre a vida da bailaria russa Maya Plisetskaya (na foto acima) e circulou um trecho que falava sobre ser "predestinado". Não me lembro das palavras exatas, mas tenho memorizado o contexto: ser predestinado é ir atrás do seu sonho, custe o que custar.

Zoe, esse texto é pra você! Após nossa conversa, pensei que você, como eu, é muito determinada. E vai conseguir o que quer em breve, tenho certeza.

Irma

7 comentários:

  1. Excelente texto! Bonita história! E concordo que ser "predestinado" é correr atrás, sem medo, e alcançar seus sonhos! Beijocas!

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  2. Hey Irma, não conhecia esse lado bailarina! Que legal! Me deu um recall de quando eu morava nos States e teve uma hora que as coisas estavam bem difíceis e eu disse a mim mesma, jamais voltarei ao Brasil sem ter vencido, vou conseguir tudo que quero! Não foi exatamente assim, assim como a curva do pé de bailarina, mas a persistência, determinação e coragem levam a gente bem longe e com certeza o papel de vítima fica inexistente! Adorei,

    Mari

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  3. Ai, ai... Irmã!!!
    E aí vão algumas lágrimas escorrendo em pleno horário de trabalho de tanta emoção. uau... adorei o texto! Que delicado, que forte....
    Como bailarina que também fui, entendo muito bem o que diz.
    muito obrigada pelo carinho.
    um cheiro,
    Zoe.

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  4. Mari,

    Quer mais determinação do que a sua de parar de fumar justamente na época em que vc cai, machuca o tornozelo e fica impedida de caminhar? Vc é outro exemplo de determinação.
    Beijos,
    Irma

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  5. Amei querida amei....porque eu estava mesmo com um pouquinho de inveja...hahahaha...
    é verdade tem que ter uma determinação louca....

    Não está sendo fácil....mas eu estou conseguindo....
    beijocas,
    Mari.

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  6. Que lindo texto! Linda história! Admiro demais esse trio, que me surpreende cada vez mais!!! Adoro!
    Bjs para Irma, Zoe e Mari!

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  7. Oi Irma,
    Obrigada pelo recadinho no meu blog.
    Também adoro o de vocês.
    Me divirto horrores e já indiquei para as amigas.
    Continuem sempre!
    Beijão

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